16 setembro 2009

Portugal - Segunda Guerra Mundial II

Lisboa esteve no centro da espionagem


«Não é segredo que Lisboa esteve no centro da espionagem durante a Segunda Guerra Mundial, mas os agentes secretos ingleses, alemães, italianos, japoneses e norte-americanos agiam igualmente fora do continente e nos territórios lusófonos.

A historiadora Irene Pimentel, num artigo intitulado Lisboa, capital europeia da espionagem, refere que o seu colega norte-americano Douglas Wheeler descreveu Portugal durante a guerra como spyland (país de espiões).

O autor de livros sobre espionagem Nigel West, pseudónimo do historiador britânico e antigo deputado Rupert Allason, escreve que «Lisboa foi um dos grandes centros de espionagem da Segunda Grande Guerra».

E explica: «a sua localização geográfica (o facto de não estar cercada por terra como as capitais neutrais de Madrid ou Berna) fez dela uma encruzilhada dos caminhos internacionais».

Num prefácio ao livro O diário secreto que Salazar não leu, do jornalista Rui Araújo, Nigel West descreve a «atmosfera de intriga» na capital portuguesa, como «os profissionais de informações de diversos países conspiravam para se prejudicarem mutuamente, semeando falsas informações, recrutando desertores, buscando fontes e mobilizando agentes duplos».

Rui Araújo, a escrever um segundo livro sobre o tema da espionagem em território português durante a Segunda Guerra Mundial, disse à agência Lusa que Lisboa era local «de contactos, negociatas, raptos, mas também 'manobras de desinformação'» e, neste caso, era importante o papel da portuguesa Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE, antecessora da PIDE).

O jornalista afirmou que «pessoas influentes da PVDE chegaram a ser alvo de 'operações de manipulação' por parte dos serviços norte-americanos (os antecessores da CIA)».

«Os serviços secretos japoneses estavam igualmente em Portugal e eram muito activos, tinham uma relação privilegiada com o capitão Agostinho Lourenço (director da PVDE na época da Segunda Guerra e primeiro director da PIDE), que também terá recebido dinheiro dos serviços secretos alemães», adiantou.

Segundo Rui Araújo, «no final da Segunda Guerra, Aliados e Eixo tinham agentes em todos os territórios portugueses, com excepção da Guiné e Goa».

«O simples número de agências que actuavam em Lisboa vale como um indicador da importância da cidade para os serviços de informações britânicos», indica Nigel West, que fala dos serviços secretos de informações, de fugas e evasões, de operações especiais e de contra-espionagem.

Nigel West considera também que «a dimensão da espionagem nazi desenvolvida em Lisboa não tinha comparação com a de qualquer outra capital neutral e só talvez Madrid se lhe pudesse aproximar».

Irene Pimentel refere «o opositor anti-nazi alemão Berthold Salomon Jacob, raptado pela Gestapo na baixa lisboeta, no Verão ou Outono de 1941», bem como «o rapto (em Lisboa, em 1944) e o envio para a Alemanha do oficial alemão da Abwehr (serviço secreto do Alto Comando Militar Alemão), Johann Jebsen, que terá colaborado com uma rede de agentes duplos jugoslavos (…), desde o Verão de 1943».

A historiadora indica ainda hotéis em Lisboa e na zona de Cascais onde se alojavam ou encontravam espiões de cada um dos lados em conflito.

«O Tivoli, hotel de luxo, situado na Praça dos Restauradores, tinha mesmo, no 4.º andar, um corredor que ligava directamente ao cais dos comboios da estação do Rossio, para possibilitar a chegada incógnita e sem controlo policial de personalidades importantes e espiões», explica Irene Pimentel.

Considerados pró-britânicos eram o Hotel Metrópole e o Aviz, em Lisboa, enquanto na linha de Cascais o Grande Hotel da Itália e o Hotel Palácio eram os preferidos dos Aliados.

No Hotel Palácio estiveram alojados, segundo Irene Pimentel, o «conhecido agente triplo Dusko Popov ('Triciclo')» - que também esteve instalado no Aviz -, o agente duplo Juan Pujol ('Garbo') e Nubar Gulbenkian, filho de Calouste Gulbenkian, que «trabalhou para os serviços secretos britânicos».

A historiadora adianta que Harold 'Kim' Philby - um dos mais famosos espiões do século XX que desertou para a União Soviética em 1963 após uma carreira nos serviços secretos britânicos -, Ian Fleming, criador de James Bond, e o escritor Graham Greene (O nosso agente em Havana, O fim da Aventura) passaram também pelos hotéis da zona do Estoril.»


Fonte: SOL


3 comentários:

Saúl Coelho disse...

Puto.... Estás cada vez a trabalhar melhor...
Passo a elogiar este teu grande trabalho, "post" a "post" e o todo o "blog" em si..
Este "post" é um dos exemplos..

Ganha-se um contabilísta, mas quem sabe se não se perdeu um grande historiador!!!!

Um abraço,
Saúl Coelho

Marcelo Sousa disse...

ehehe Obrigadão, abraço

Anônimo disse...

Boa tarde Marcelo,
acabámos visitar o museu exilio, no antigo posto correios do estoril.
Fala-se aqui neste eu comentário da estadia de espiões ingleses no estoril, mas esquecem-se os nazis, que tinham como base central, o hotel atlantico e o miramar em frente. Cheguei mesmo a ver foto de uma ggante bandeira nazi alojada no ponto mais alto do hotel atlantico no monte estoril. Apaixona-me toda esta temática da 2 guerra mundial, e acima de tudo o impacto qu ela teve sobre a zona onde resido: estoril/cascais.
Se souber alguma obra interessante que aborde estes temas, sff indique-me.
Abraço, e parabéns.
pauloavpadua@yahoo.com